"" O DOSSIER BALEIA NAO MORREU COM ELA, CONTINUARÁ ATÉ QUE SE FORME PESSOAS PARA QUE SAIBAM DESENCALHAR OS MAMÍFEROS... "
E era tão bela a baleia que, tendo mais de nove mil quilômetros de extensão litorânea brasileira, escolheu nossa ‘península’ para visitar, na tarde da última segunda-feira. Por quê? Teria sido preciso ela se perder de sua família e agonizar por 36 horas até morrer em plena Geribá, na areia, somente para expor a incompetência dos órgãos responsáveis por salvá-la? Vindo de Salvador, exclusivamente, para isso, o Instituto Baleia Jubarte é considerado a maior autoridade sobre o assunto. Ele tem como parceiros o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, a Petrobras, a Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Nordeste, a Comissão Internacional Baleeira, o Grupo de Trabalho Especial de Mamíferos Aquáticos, além de um oceano de instituições internacionais, como colégios e faculdades. Sabem tudo sobre a origem, alimentação, hábitos, estrutura óssea e anatômica do animal, só não sabem como desencalhá-lo. Chegaram sem nenhum tipo de equipamento específico para a operação de resgate.
Ou talvez o mamífero tenha vindo para dar visibilidade ao trabalho da prefeitura, que, corajosamente, para transmitir a sensação de que estava tudo sob controle (papel de todos os governos), anunciava em seu blog: “Baleia encalhada será retirada hoje às 15 horas”. Em uma foto, apenas dois salva-vidas sumiam ao lado do gigante de cerca de 15 metros e 25 toneladas. No texto, lia-se: “Uma equipe de salva-vidas da Prefeitura de Búzios trabalhou intensamente tentando liberar a baleia (...)”. Seria cômico, trágico não fosse. Mas valeu todo o esforço feito por todos, em especial esses rapazes, esses sim, heróis. Lógico que foi uma fatalidade o que ocorreu: O instinto animal fez com que a baleia seguisse um cardume, quando se viu arraigada ao banco de ‘substância mineral granulosa’. Mas faz parte do trabalho da prefeitura de uma cidade litorânea trabalhar com a prevenção a acidentes como esse. Justamente por não saber quando irá acontecer calamidades como essa, é que o trabalho de prevenção deve ser permanente, e a solução ser colocada em prática com rapidez e eficiência. A corda que arrumaram para tentar puxar a jubarte, só daria mesmo pra usar como balanço de criança. Ou talvez como correia. O rebocador da Petrobras, acionado logo nas primeiras horas, chegou com mais de um dia de atraso, Quando a maré não estava mais cheia. Mas o prefeito, bem como os secretários e vereadores estavam lá acompanhando todo o drama e pensando em soluções.
Apesar da Marinha do Brasil ter como missão “preparar e empregar o Poder Naval, a fim de contribuir para a Defesa da Pátria”, e o aquático não ser nenhum submarino inimigo atacando a Cidade, tal força armada dispõe de barcos possantes e poderiam sim, ajudar, se quisessem. Chegaram a ser acionados. Mas talvez por uma questão de hierarquia (coisas também de governos), não apareceu ninguém vestido de branco.
O que era pra ser o resgate da jubarte, foi para a baleia um grande sofrimento. Ao ponto dela chegar a soltar suas cracas para se defender. De tão forte e imponente, se viu frágil como um inocente na cadeia. Uma aranhazinha presa à própria teia. Por fim, assim como o mar muitas vezes não devolve nossos mortos, nós não conseguimos devolvê-la. Ouso dizer que a matamos. Não pra saciar nossa fome, assim como ela só queria saciar a sua, mas por pura incompetência. Reconheçamos isso. E até na hora de remover o corpo, conseguimos furá-lo, contaminando a praia com sangue que atrai cações e tubarões, deixando-a fedorenta e sem poder ser usufruída. A bicha, a quem alguns “jornalistas” já apelidavam de “ronaldinha”, morreu por volta da meia-noite, sozinha, e assim ficou até de manhã.
Ironicamente, 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Dados comprovam que 99% das baleias azuis já não existem. Um terço de todas as formas de vida do planeta estão à beira da extinção. Só existem 3.200 tigres em todo o mundo. Semana passada, mais de dez toneladas de sardinhas boiavam em nossas praias, mortas por pescadores ‘olho grande’. Em frente ao nosso jornal acaba de morrer um cachorro atropelado. Até quando o homem, de uma maneira ou de outra, continuará a contribuir com mortes?
Os turistas que presenciaram a luta pela vida, voltarão com uma história pra contar, devidamente registrada em suas máquinas. Era o espetáculo, o glamour, flashes, televisões. Fosse na África, em uma aldeia, a mobilização seria para destrinchá-la ainda com vida, para a ceia. “Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual”. Há quem diga que a jubarte tenha chegado atrasada para o 9° Festival Gastronômico, onde seu caldo seria servido a R$15, com aceboladas alteias. E se acontecer de novo?
MIRINHO - PREFEITO DE BUZIOS
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