Fratura em pé de idoso provoca retomada de diálogo com a Imprensa
Ortopedista afirma que paciente não seguiu orientações
Nesta semana, o ortopedista da secretaria de Saúde de Búzios, Ângelo Mônaco, esteve na redação do PH para comentar o relato feito pelo paciente Hélio Gomes, publicado na página seis da edição passada sob o título; ‘Quando um atendimento médico vira caso de Polícia’. No texto, seu Hélio, que é pai do renomado jornalista Hélio Júnior, reclama de uma suposta falta de profissionalismo do médico que lhe atendeu após sofrer uma fratura no calcanhar esquerdo, e o responsabiliza por ter contraído edemas e inflamações no local.
- O que aconteceu com ele é comum a quem tem fratura de calcâneo e deixa a perna para baixo; a falta de repouso aumenta a extensão do edema, que por si só já é resultado do próprio trauma que causou a fratura. Nestas circunstâncias o sangue não circula como deveria circular, pois todo tecido ao redor da fratura é acometido de intenso inchaço estrangulando os vasos sanguíneos. Consequentemente a pele sofre com o atrito causado pelo movimento do paciente contra a tela que fixa a tala na perna. O resultado desta fricção é o aparecimento de bolhas, que costumam ter elemento seroso em seu interior. Quando essas bolhas estouram dá-se a ferida – explica Dr. Ângelo Mônaco acrescentando que ‘há casos do paciente chegar à ortopedia já com essas feridas’.
Ainda segundo o ortopedista que atendeu seu Hélio, o problema não se deu devido ao uso da tala. – A técnica é usada em lugar da fixação de uma Bota de Gesso, já que imediatamente após este tipo de trauma ocorre intenso edema na área afetada. A técnica possibilita que o osso fraturado permaneça imobilizado, ao mesmo tempo em que dá espaço para ocorrer o processo natural de inchaço no local sem que ocorra estrangulamento dos vasos. Outra vantagem de se usar a tala é que em caso de dor e inchaço intensos fica mais fácil, e menos dolorido, retirar a tala do que a bota – esclareceu Dr. Ângelo. Quanto a escuridão presente no tecido circunvizinho ao trauma o médico também esclareceu que a cianose é resultado, também, da falta de repouso por parte do paciente.
- Não escrevi no receituário, mas adverti o seu Hélio verbalmente, de forma clara, que mantivesse a perna para cima por uma semana, até que eu o atendesse novamente na Policlínica. Eu tenho plantões na Policlínica às quartas-feiras, e naquela semana não me dei conta que cairia num feriado (12). Mas deixei claro que se ele se sentisse mal com a tala, não deveria esperar até quarta, mas sim voltar ao hospital, e foi o que ele fez – conta o doutor Angelo.
Paciente recusa o atendimento sugerido, rasga receituário,
e assina termo de responsabilidade
Segundo ele, ao chegar ao hospital, seu Hélio se revoltou contra o médico que lhe atendeu, o doutor Francisco Mello, pois este queria imobilizar sua perna novamente com o uso de outra tala. De acordo com o relato do médico, o paciente, não só impediu que a imobilização do local do trauma fosse feito, como também rasgou a receita que prescrevia o uso diário de um antibiótico, assinando em seguida um termo de responsabilidade. Ao sair do Hospital Rodolpho Perissé, Hélio Gomes foi direto ao Ministério Público, à Delegacia e ao Instituto Médico legal, em Cabo Frio.
- Ele disse na reportagem que o doutor Francisco ficou pasmo ao ver sua perna, dizendo que esta estava necrosada, com risco de gangrena e amputação. O doutor Francisco nega que tenha dito isso ao paciente. O que o doutor Francisco me disse é que ao chegar para ser atendido, pela segunda vez, a tala estava toda suja, com sinais de que o paciente não tinha mantido o período de repouso – argumentou o médico.
Dificuldade em obter o boletim de atendimento
Doutor Angelo tomou conhecimento da matéria através do secretário municipal de saúde, Guilherme Azevedo, e a princípio pensou até em processar o PH. Mas, com a consciência tranquila e confiante em sua carreira de mais de 30 anos, ele que é especialista em Ortopedia de Trânsito, preferiu conversar. Lembrou de inúmeros casos na região (e que vêm aumentando recentemente) em que literalmente salvou vidas de acidentados, realizando operações difíceis, mas bem sucedidas. Entregando o cargo de secretário de saúde de Arraial do Cabo há pouco tempo, elogiou a saúde pública de Búzios, ‘o orçamento para o ano que vem é de R$51 milhões, essa é a única cidade onde se tem dez médicos de plantão’, disse. Quanto a suspeita levantada pelo IML sobre a fratura de calcâneo do seu Hélio (segundo o aposentado, ao ver seu raio-x, um funcionário lhe perguntou: ‘você tem certeza que quebrou seu calcanhar?), o doutor Angelo aponta para a chapa e afirma:
- O IML não tem como fazer essa avaliação, e novamente eu asseguro: há fratura, está bem clara aqui. E peço ainda, que quem conheça esse senhor, por favor, o aconselhe, caso não queira nosso atendimento, a procurar então outro ortopedista. O pé dele está quebrado, ele se recusou a tomar o medicamento passado pelo médico, e infelizmente eu já vi casos como esse terminar em amputação. Ele é um senhor de 73 anos, fumante, a saúde não é 100%. Eu também sou fumante, paciência, mas até nas carteiras de cigarro nós vemos como pode ficar a perna de um fumante que tenha complicações sanguíneas. Agora, como ele que se diz tão esclarecido pode ter andado com o pé quebrado, forçado o pé? – indaga doutor Angelo.
Inconsolado e indignado, seu Hélio reage: - Se eu estou com meu pé quebrado, como eu poderia andar? Se estivesse quebrado, eu estaria morrendo de dor. Agora é que estou melhorando, pois está desinchando. Ando um pouco só dentro de casa, com as muletas que meu filho trouxe do Rio (porque aqui, a secretaria de Saúde era obrigada a me dar, mas não deu). Eu acho que a gaze que usaram estava infectada; eles não lavaram a mão nem usaram luva cirúrgica pra manipular a minha perna. Outra coisa: está sendo difícil para conseguir o meu Boletim de Atendimento Médico (BAM). No hospital, falam que não tem como me dar. Eles estão é com medo do processo – resmunga seu Hélio.
O doutor Angelo não descartou a possibilidade de os técnicos que colocaram a tala a terem deixado muito apertada. Segundo ele, essa parte não é de sua responsabilidade. Na quarta-feira (19), a promotoria pública aconselhou a seu Hélio retornar ao hospital. ‘Batendo o pé no chão’ ele se recusou. Foi o hospital de Cabo Frio.
Nossa Opinião
A falta de comunicação entre a secretaria de Saúde de Búzios e a Imprensa local faz com que uma série de reclamações feitas pela população fique sem resposta por parte dos profissionais de Saúde. Parece que naquele setor da administração pública ninguém pode falar aos jornais, só mesmo o secretário Guilherme Azevedo, agente público nem sempre acessível já que cumpre extensa lista de compromissos diariamente. Quando esteve em nossa redação na semana passada para contar a sua história, sabíamos da via crucis que teríamos que enfrentar para obter informações a respeito do estado de saúde de Hélio Gomes. Publicamos as reclamações do idoso. Para nossa surpresa na terça-feira (18) recebemos uma ligação do médico Marcelo Paes Paiva, amigo do ortopedista que atendeu Hélio, informando que o profissional queria esclarecer as alegações do paciente. Cordato, accessível, com linguagem simples, o médico Ângelo Mônaco, veio até a redação e deu seu depoimento a respeito dos fatos. Comunicação simples e direta como deveria ser sempre entre governos, imprensa e contribuintes.
Colaborador: Bruno Almeida